A solidão depois do
prazer: gente sem conteúdo
Ronaldo Magella
(jornalista, professor, escritor) 07/08/2017
Minha solidão é essa: gente sem conteúdo.
Foi o desabafo de uma amiga nesta segunda-feira. Gente pra
transar, ficar, beber, sair, a gente encontra, o problema é o conteúdo, não dá
pra viver, conviver, namorar, se apaixonar por alguém que não sabe mais do que
meia dúzia de palavras, ela disse.
O problema, ela continua, é depois do prazer, o vazio que
fica, a falta de diálogo, a risada gostosa, a brincadeira inocente, o afeto
simples, o prazer de estar ali e poder sentir que é bom estar ali com aquela
pessoa que acabou de viver a sua intimidade e se deixou também ser vivido.
Minha amiga sente o que há de mais comum no mundo moderno, a
solidão acompanhada, estamos todos a todo mundo “acompanhados”, conectados, mas
é raro sentir empatia, afinidade, cumplicidade.
Como diz o escritor Fabrício Carpinejar, de corpo estamos
cheios, mas sofremos da ausência e da falta da cabeça e do coração das pessoas.
Podemos até encontrar prazer e um pouco de alegria no corpo de alguém, sentir
prazer, gozo, mas só nos sentiremos completos e plenos ao nos encontramos com o
pensamento e o sentimento do outro, isso que chamamos de “a gente tem tudo a
ver”.
Sei o que
minha amiga sente, tédio.
Há um momento em nossas vidas que a gente está
cheio das pessoas, acha todo mundo chato, sem graça, todo mundo comum demais,
igual demais, com as mesmas conversas, tudo mundo sem cor.
Procuramos
alguém que nos arrebate e nos encante, e nada, sofremos, refletimos,
mergulhamos no banzo, decidimos viver a solidão, ficar a sós.
A boa
notícia é que, isso passa, a má notícia é que, sim, é raro, cada vez mais raro
encontrar pessoas interessantes e encantadoras, gente que nos faça rir, gente
que nos tire da nossa zona de conforto, que nos faça sentir admiração por ela e
vontade, nos faça o coração bater mais forte, rápido, nos faça ter medo, nos
faça querer viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário