sábado, 5 de agosto de 2017

Dói

Precisamos de palavras, pois o silêncio é sempre dúvida, incerto, inseguro

Ronaldo Magella 05/08/2017 (jornalista, escritor, professor)

Quando falamos de afeto nada mais angustiante do que o silêncio do outro, nos relacionamentos o silêncio dói tanto quanto as palavras, estas podem nos marcar, mas aquele nos atormenta.

Não é para tanto que o nosso afeto crescer na palavra, é  o diálogo que nos confirma o sentimento, amadurece o gostar, intensifica a vontade, aumenta o desejo, é através do que é dito que a gente confirma a certeza do nosso querer, mas quando há silêncio, pairamos sobre dúvidas, dormimos sem a certeza de um novo amanhã, o silêncio é sempre um ontem, uma busca, a procura, o que não temos. 

Aprendi a respeitar o silêncio do outro, pra mim ele é sempre bem claro, deixa um recado no ar, quer dizer algo, não o que gostaríamos, mas é preciso entender, aceitar e seguir.

Não digo que o silêncio é bem vindo, nunca é, a gente precisa ouvir o outro, precisa ouvir do outro, como se nos alimentássemos da palavra do outro, para o bem ou para o mal.

Que ele diga que não nos ama, que nos quer ou não, que está ocupado, cansado, que diga qualquer coisa, mas que não se cale, não silencie, não nos deixe na dúvida, sempre cruel e má.

Sempre precisamos seguir em frente com uma palavra pra carregar, seja de conforto, seja de dor, é preferível carregar o peso da fala do outro do que viver prisioneiro do seu silêncio, e silêncio é sempre dúvida, incerteza, insegurança, vazio.

Nas palavras a gente pisa, como alguém que reler mil vezes o mesmo bilhete de amor, no silêncio a gente escorrega e nunca sabe pra qual lado cair, pra qual caminho seguir, palavras são fortes, nos suporta, o silêncio do outro é sempre frágil, não há como se segurar, nos que se agarrar.



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