Ninguém quer mais compromisso
sério
Ronaldo Magella 12/10/2016
O que Bauman disse em seu livro, Amor Líquido, é que no mundo
moderno as pessoas não desejam mais laços fortes e seguros, todo mundo dormindo
com um olho aberto, as pessoas entram numa relação pela metade, ninguém se
entrega mais, de forma completa.
Manter, nos dias de hoje, uma conexão profunda com alguém,
para muitos é imaturo e precipitado. Não falo nem em amar, mas, talvez, de gostar,
querer, de forma intensa, é quase um crime, se não passar por uma loucura.
Qual segurança há nas relações modernas? Não há nenhuma.
No mundo atual as pessoas são inseguras, estão sempre com um
pé atrás, há um universo de escolhas e possibilidades, o que torna qualquer
relação um poço sem fundo, incerto. Se alguém erra, manda-se embora, se não
está conforme desejamos, melhor não continuar, ninguém mais quer continuar,
consertar, conversar, (isso cansa), se troca, somos como mercadorias, produtos.
Se estar sozinho é ruim, ficar com alguém é um desafiado
constante, angustiante, é apostar no acaso, pode dar certo, mas, pode não funcionar, pode ser bom, mas, pode
ser frustrante. Muitas vezes é.
Quantas pessoas encontramos com medo de amar, gostar, de se
relacionar? Vítimas de relações pesada, superficiais, descuidas, interesseiras
e egoístas?
As pessoas estão cada vez mais obsessiva pela perfeição,
física e psicológica, diferenças são inaceitáveis, inconciliáveis, não se
admira mais o outro por aquilo que não sou, mas o aceito se vejo uma extensão
de mim e só isso me importa.
Só isso importa, alguém igual a mim.
As pessoas, agora mais do que nunca, sofrem do complexo de
narciso, de forma esquizofrênica, os selfies comprovam isso, são apaixonadas
por si mesmas, mas transferem isso para as suas relações, buscam uma imagem e
semelhança, um clone ou uma cópia das suas preferências e vontades.
Uma menina disse recentemente que ficaria comigo se eu
perdesse 20 quilos e entrasse pra igreja dela, sorri, mas pensei. É isso.
Não importa o que sou, faço, quero, penso, minhas qualidades,
defeitos, mas o que ela deseja de mim, pra ela, é isso, é o desejo dela que deve prevalecer e
será o fio condutor da relação, quando não for mais, chega-se ao fim.
Eis a angustia.
Devo ser conforme o outro deseja, tenho que atender as suas
expectativas, aos seus anseios, então, não sou eu quem desperto no outro
desejo, vontade, paixão, amor, mas é o que o outro vê em mim, o que ele espera
de mim, o que ele quer pra ele, que fará com haja ou exista alguma vontade para
comigo.
E claro, não posso jamais deixar isso acabar, pois se finda,
findo também o que nos aproximou. E a culpa será sempre minha.
Descobrimos assim uma forma de não nos prender, ficar é mais
fácil, não exige de mim sacrifícios ou compromissos, nem medo ou insegurança, é
uma proteção, ninguém cria laços, se prende, se mantém, estou com alguém, sem
estar, fico com alguém, sem gostar, gozo o momento, a hora, o futuro pouco
importa, não penso em construir nada, apenas em viver, nem me preocupo em destruir, e
assim seguimos.
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