quinta-feira, 28 de julho de 2016

“Parabéns pra mim”, sou carente

“Parabéns pra mim”, sou carente
Ronaldo Magella 28/07/2016

Tenho pensando, nesses tempos de quantidades, quando buscamos “amigos”, seguidores, comentários, curtidas, compartilhamentos, parece, não sei, tenho a leve sensação que vivemos uma solidão coletiva e uma carência perturbadora.

Hoje somos medidos pela quantidade de seguidores, das curtidas que conseguimos amealhar. Como diz Bauman, se durante toda uma vida a gente, se muito, consegue ter três amigos de verdade, as redes sociais nos permitem a ilusão de pensar que temos milhares de amigos, e como isso, achamos que podemos desabafar em rede.

Tenho acompanhado muitas formas de comunicação, desde o Facebook que nos lembra dos anos de amizades com alguém, das correntes que “imploram” por um comentário, das formas muitas, diversas e variadas de chamar a atenção das outras pessoas em busca de um pouco de atenção para nós mesmos.

Tenho a leve sensação de que agora vivemos em função de mostrar aos outros o que estamos a pensar, sentir, viver, fazer, antes de viver a gente pensa logo nas quantidades de curtidas que tal cena da nossa vida irá conseguir atrair nas redes sociais.

Isso me lembra dois fatos importantes. Um dia conversava com uma menina e a pedi em namoro (sim, ainda sou desse tempo), e ela me perguntou, vamos namorar com direito a foto no instagram, mudança de status de relacionamento no Facebook e selfie? O outro fato é de um amigo que sempre estava procurando aventuras para tirar fotos, e sempre dizia, isso vai dar muitas curtidas.

Parece que estamos gritando, ei, estou aqui, por favor, olhem pra mim, me deem atenção. Aí os limites não são ponderáveis, nem sensatos, da foto de um prato de comida ao “parabéns pra mim”, como se eu precisasse avisar aos demais que estou a comemorar alguma coisa, e aí é que está, sim, eu preciso.

Preciso, pois se algum dia as redes tiveram por e como objetivo reunir amigos, parentes, familiares, gente distante, com o intuito de nos deixar perto, próximos, hoje elas nos servem para mostrar a nossa popularidade, ostentar a nossa vida privada, acumular desconhecidos, manter contatos com pessoas que na vida real eu não direcionaria nem um olhar, menos ainda um simples afeto de saudação, mas posso ter acesso a vida dela e saber sobre a forma ela existe.

Não consigo alcançar o futuro e fazer uma ponderação sobre o que iremos sentir logo mais, adiante, sei que precisamos de afetos, e eles acontecem na vida real, no mundo de carne e osso, com cheiro, suor, lágrimas e sorriso, pois tudo que fazemos online é apenas para nos sentirmos bem do lugar de onde estamos.

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