Possuída
Ronaldo Magella (jornalista)
Enquanto ele avançava, sem medo, ela se
sentia cada vez mais desejada, pedia pra parar, mas no fundo sonhava em ser
invadida e tomada. Parada. Esperando. Por favor, pare, não faça isso,
sufocada pelos beijos quentes e ardentes que ele imprimia em ritmo oscilante,
entre lento, ligeiro e selvagem, ela apenas se deixava, dizia não, e queria
sim. Não posso, ela repetia, pare, e sorria no quanto da boca com a vontade já
escorrendo por todos os lugares. Pensava, amava aquela falta de educação,
queria apenas ser dele, toda, completa, inteira, nua, sem culpa, vergonha,
medo, sem dimensões, freio. Pare, por favor, insistia. Continue, desejava.
Preciso ir, vamos parar, chega, e o beijava ainda mais, de forma gostosa,
tomada pela vontade, pelo desejo, tomada de calor, dor, alívio, safistação. A
cada gesto, a certeza, em todo toque, um motivo para ficar, os cheiros que se
misturavam, os corpos suando, suados, as pernas entrelaçadas, mãos cruzadas,
olhos fechados, tudo se encaixando, perfeitamente, magia, mágica, magicamente,
simetricamente, delicadamente. Ele rasgava suas ruas roupas e também as suas
certezas, tirava suas peças e também sua insegurança, amava com fúria e paixão,
com delicadeza e carinho, costurava o momento alinhavando os pontos, soltando
as amarras, prendia as partes, apertava o todo, acariciava, como a colher fruta
madura, a tocava e não se furtava do prazer, dava o melhor, o que tinha. Ela
sorria intimamente, queria o que não revelava, sonhava aquilo que antes corava,
tinha agora certeza de ser possuída escancaradamente, escandalosamente,
deliciosamente, despudoradamente, maliciosamente, perfeitamente. Sem vergonha,
mal educado, grosso, selvagem, idiota, sem pudor, canalha, era isso, sentir em
si, o consumo do desejo, a fartura do prazer, ser amada sem limites, sem
regras, politicamente incorreto. Queria apenas ser corrompida pelo desejo,
destroçada de prazer, cansar de amor, sofrer de tesão, sentir até a exaustão,
morrer do próprio veneno, criar e cometer o seu próprio pecado, perder e perder
a si para se encontrar agora deitada, pensando, isso é vida.
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