Atropelado
Ronaldo Magella
Suas palavras bateram em mim, choque rápido e certeiro, me
jogando longe, nem vi o que me atingia, foi duro e forte, senti apenas o
impacto das frases, a dor das palavras, sensação de estranhamento e surpresa.
Você me atirava longe da sua vida, num golpe intenso, como um
objeto que se joga ao longe, quando se quer mais, se usa mais, se presta mais,
ali, naquele momento, era o que me sobrava, o descarte, a dispensa, o lixo, era
arremessado, voava das suas mãos para um destino qualquer, para os braços do
nada.
Demora pra você perceber a realidade, encarar e suportar a
realidade, tudo parece um sonho, as coisas acontecem de forma veloz, você rir,
atordoado, sem entender o que está acontecendo, se realmente está acontecendo,
se aconteceu, só depois, quando o tempo se vai, se esvai, foge, para no ar,
quando tudo se acalma, você começa a perceber a realidade, por os pés no chão.
É quando as primeiras dores surgem, você se mexe um pouco e o
corpo acusa, dói, te machuca. Mas, ué, você se pergunta, mas o que aconteceu?
Bati em quê? Busca a memória, sacode as lembranças, remexe as horas, volta no
tempo, começar recordar e acreditar que algo não está mais no lugar, algo se
quebrou, deixou de estar, foi embora, se perdeu, mas você ainda está vivo e sentindo.
Veio de onde mesmo se esperava, de onde menos poderia vir,
você parecia firme, seguro, inteiro, mas foi atropelado, quebrou-se, trincou,
antes era amor o que sentia, aconchego, agora era dor, abandono, era paz que você
tinha, sossego, agora era insegurança, confusão, agora você tinha tudo, logo
depois mais nada.
Você me atropelou, deixou cortes, provocou arranhões, causou
fraturas, e você nem precisou de muito, batei em mim com palavras, em deixou em
coma, me tirou a vida, fiquei entre a vida e morte, e morri, quando você disse
que não me queria mais.
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