terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Atropelado

Atropelado

Ronaldo Magella

Suas palavras bateram em mim, choque rápido e certeiro, me jogando longe, nem vi o que me atingia, foi duro e forte, senti apenas o impacto das frases, a dor das palavras, sensação de estranhamento e surpresa.

Você me atirava longe da sua vida, num golpe intenso, como um objeto que se joga ao longe, quando se quer mais, se usa mais, se presta mais, ali, naquele momento, era o que me sobrava, o descarte, a dispensa, o lixo, era arremessado, voava das suas mãos para um destino qualquer, para os braços do nada.

Demora pra você perceber a realidade, encarar e suportar a realidade, tudo parece um sonho, as coisas acontecem de forma veloz, você rir, atordoado, sem entender o que está acontecendo, se realmente está acontecendo, se aconteceu, só depois, quando o tempo se vai, se esvai, foge, para no ar, quando tudo se acalma, você começa a perceber a realidade, por os pés no chão.

É quando as primeiras dores surgem, você se mexe um pouco e o corpo acusa, dói, te machuca. Mas, ué, você se pergunta, mas o que aconteceu? Bati em quê? Busca a memória, sacode as lembranças, remexe as horas, volta no tempo, começar recordar e acreditar que algo não está mais no lugar, algo se quebrou, deixou de estar, foi embora, se perdeu, mas você ainda está vivo e sentindo.

Veio de onde mesmo se esperava, de onde menos poderia vir, você parecia firme, seguro, inteiro, mas foi atropelado, quebrou-se, trincou, antes era amor o que sentia, aconchego, agora era dor, abandono, era paz que você tinha, sossego, agora era insegurança, confusão, agora você tinha tudo, logo depois mais nada.


Você me atropelou, deixou cortes, provocou arranhões, causou fraturas, e você nem precisou de muito, batei em mim com palavras, em deixou em coma, me tirou a vida, fiquei entre a vida e morte, e morri, quando você disse que não me queria mais. 

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