quarta-feira, 20 de novembro de 2013

São as lembranças de algo que nunca vivi

São as lembranças de algo que nunca vivi
Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada


Talvez seja a loucura de insistir na tua existência e na esperança de que ainda um dia irei te encontrar, a saudade daquilo que ainda não vivi, que me faz ainda viver, o sentimento de que ainda estaremos juntos “eu só não sei quando, se daqui a dois dias ou daqui a mil anos”, na fim de tudo ou na eternidade do que ainda nos resta, sobra, teremos, é por tudo isso que te vejo ali, sentada, esperando também por esse mesmo momento, por mim, por nós, por uma vida, e te vejo contando o tempo, as horas, uma vida que tu alimentas dentro de ti sem saber, uma contagem de te passa despercebida e só é sentida quando tu suspiras de cansaço, um cansaço de uma vida que ainda não viveu, de uma espera que te consome e te angustia, mas é também muitas vezes o único motivo do teu risos, da tua jornada, da tua esperança. Somos parceiros dos mesmos sentimentos, de nos encontrarmos, de nos acharmos, nos perdoarmos pela ausência que nos permitimos, deixamos que o acaso guie as nossas vidas, que o destino nos una, que Deus tome a suas providências, que a vida se realize, enquanto isso vamos comendo os pedaços da nossa existência, sem sentir o sabor, apenas provando um pouco, não estamos completos longe, distantes, somos vazios, sozinhos, não uma solidão qualquer, mas daquilo que nos faz falta, a nossa vida em comum, nossas mãos entrelaçadas, nossos perfumes misturados, nossas bocas coladas, nossos rostos sonolentos na mesma cama, nossas vidas numa mesma manhã, nossos cafés num fim de tarde qualquer, nossos sim’s, nossos não’s, nossos sonhos, nossa coisa que não desistimos nunca de acreditar que irá um dia a qualquer momento acontecer. E as coisas simplesmente acontecem.  E se te imagino, se te insisto, espero, te encontro ali em algum lugar dentro de mim, lugar que não sei precisar qual seja, onde está, como se muda, como se livra, são as lembranças de algo que nunca vivi que me fazem viver mais, são as saudades de uma vida que nunca tive que me levam ao amanhecer de todo outro dia e me fazem prosseguir nas áridas horas dos dias, e vou-me, me distraindo sem ti, sem a tua presença, vivendo do eco que sinto dentro de mim, do oco, nutrindo sentimentos, guardando e regando coisas que tenho para te dizer, cenas para viver, horas para compartilhar, músicas para ouvir, filmes para ver, desejos para realizar, vontades para cumprir. É uma vida, a nossa vida, a minha vida sem mim, sem ti, e te compro, te guardo, te espero, te anseio, te amo sem mesmo saber da tua existência, como um romântico antigo de um mal que a vida moderna não conserva mais e nem aceita, mas ainda assim e por isso mesmo, te encontro ali, naquele lugar, com sua roupa mais simples, teu sorriso mais perfeito, teu rosto limpo, tua alegria renovada, seus cabelos ao vento, teu corpo ao sol, teus gestos serenos, tua voz macia, teu amor para mim, teu carinho doce, teu afeto mais gostoso, tua decisão mais firme, suas perguntas bobas, suas maneiras de menina, teu corpo de mulher, os sonhos perfeitos, os desejos profundos, tua paixão pela vida, nossa vida apaixonada, o destino em comum, nosso comum amor, nosso amor desde sempre, de ontem, por hoje, até amanhã, para nunca mais terminar, acabar, findar. 

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