quinta-feira, 14 de novembro de 2013

De tudo que não sou, fui, serei e já vivi

De tudo que não sou, fui, serei e já vivi

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada


Não sou formado por coisas só minhas, trago em mim o que há de outros, lembranças, saudades, desejos que me provocam, raiva, dor e mágoas que desabrocham, coisas que me completam, sou o que os outros despertam em mim, gostaria de ser completo por mim mesmo, em mim mesmo, mas trago em mim a esperança de que algum dia alguém possa me resgatar de mim, me livrar disso que me atormenta, ao que chamam, e que me forma, de  forma incompleta, de EU, o eu que sou, mas que não me governa sozinho, não sou apenas eu, sou os outros, um pouco do que penso sobre Deus, do amor que espero, da dor que sinto, da tristeza que me machuca, das perdas que tive, dos dias que vivo, das noites que sonho, sou as horas que faltam, as que vivo, as que já vivi, de todas as coisas, pequenas grandes coisas, muitas me somam, multiplicam, me dividem, tiram sempre um pouco de mim, mas acrescentam, me fazem mais o que sou e me deixam ser mais um pouco do que não sou. Entre todas as coisas, o vazio e o que há, nem sei ou saberia precisar o que me afeta mais, o que não tenho ou que quero, o desejo ou a vontade, a renúncia ou a busca, o sorriso ou a lágrima, não saberia dizer o que me é mais forte, intenso, se um dia de sol ou uma noite de chuva, tento viver todas as coisas com intensidade, mas intenso mesmo é que aquilo que ainda não vivi e isso me provocar todos os dias a querer sair de mim ao encontro de um mundo novo o qual nunca conheci, tive, penso que seja real, mas não acredito que possa existir e lá chegar. Me completo em abundância pelos sonhos que pelo dia vou pensando, vivendo e fabricando, me ressinto pelo que a noite me traz sonhos e nunca consigo lembrar, já não sei o que seja real, o que penso, vejo, sinto ou o que se esconde de mim, se o que tenho ou que me falta, se o que vejo diante dos olhos ou o que está atrás de mim, não sei o que devo sentir, querer, desejar, se o que é real, possível, ou as coisas que aquietam o meu coração, as que me tornam sensíveis ou as que me deixam tranquilo, nessa ambivalência da alma me perco e me encontro, mas já e nem aí saberia dizer o que seja mesmo o melhor, se ser e estar ou falta, a ausência, pelo que tenho, sorrio, pelo que me falta me arrepio, durmo pelo que tenho, acordo pelo que me falta, entre a paz e as espada ainda percebo e entendo que há uma caminhada uma ponte por caminhar, cruzar e assim vivo, vivemos, choramos e sorrimos, entre todas as coisas, de tudo que não sou, fui, serei e já vivi. 

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