segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O amor tem voz, barulho, histórias de você, como pediu Vinícius

O amor tem voz, barulho, histórias de você, como pediu Vinícius.

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada

Xerazade sabia “que todo amor construído sobre as delícias do corpo tem vida breve”, que todo desejo realizado provoca uma sensação de vazio e uma corrida louca para preencher novamente a vontade, a ausência, o nada, por isso ela contava histórias, ela sabia que após o prazer não haveria mais nada, era preciso sustentar o sentimento, a paixão, amor, provocar o interesse, despertar a atenção, manter a chama,  por isso ela contava histórias, “As mil e uma noites” preenchendo o vazio provocado pelo desejo saciado, pelo desejo consumido. A beleza dela estava em seu conteúdo, naquilo que era trazia, podia oferecer, falar, contar, e assim ela sobrevivia, para não ser morta todo dia, ao nascer do dia, após uma noite de amor,  ela reinventava o amor, contava uma história para sobreviver, talvez aquilo que Vinícius de Moraes cantou na canção “Minha namorada”, “e também de não perder esse jeitinho de falar devagarinho essas histórias de você”, o poeta sabia que o coração é sempre o alimento para a alma, que as pessoas são belas pelo que vivem, pelas experiências que podem vivenciar, pelo que podem sentir e não pelo que podem aparentar, pelo que podem dizer, sonhar, cantar, falar. Sempre que vejo dois casais de namorados, ou seja lá o que forem, calados, um ao lado do outro, com o celular na mão, sinto que ali não há mais nada, pode haver tesão, desejo, mas amor, paixão, acredito que não, não posso e não consigo entender uma relação baseada no silêncio, quando não temos o que dizer um para o outro, ou quando não sentimos prazer em ouvir o outro, algo está perdido. Rubem Alves disse que o amor precisa ser masculino e feminino ao mesmo tempo, que é preciso saber ouvir e que é preciso saber falar. O Sultão amou Xerazade mais pelo que ela podia dizer, e o poeta Vinicius de Moraes sabia que quando o silêncio chega é porque o amor já foi embora há muito tempo. Quando amamos a alguém a ouvimos, nosso coração é um confessionário, adoramos ouvir quem amamos, as coisas que ela conta, fala, suas bobagens, rimos, nos deliciamos, achamos graça, nos apaixonamos e nos deixamos ficar, ficamos embriagados pela voz, pelo tom, timbre, pelo som, pelo barulho do outro chegando, ao som dos seus passos encontramos a nossa alegria. O amor  tem voz, barulho, histórias de você, como pediu Vinícius, tem história, o amor precisa ser reinventado todos os dias pela fala, pelo som, quando o silêncio abriga na relação ela já está morta, acredito que casais que encontram motivos para conversar todos os dias serão aqueles que irão sobreviver por mais de mil noites, mil e uma noite, ou seja, o infinito mais um dia.....


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