quarta-feira, 31 de julho de 2013

O amor tem caminhos quando não existem estradas...

O amor tem caminhos quando não existem estradas...

Ronaldo Magella – professor, poeta, escritor, blogueiro, radialista, jornalista e mais nada.

Nenhum esperava apaixonar-se, ela queria, mas sabia que não o encontraria mais, ele não se preocupava, estava bem. Um dia conheceram-se, beijaram-se, apaixonaram-se, noivaram, casaram-se. Foram felizes. Ele acordava cedo, ela tarde demais, ela gostava de trabalhar, ele adorava ler, ele odeia poeira, ela não liga muito, ela conta tudo, ele fala pouco. Não tiveram filhos, foi menor o sofrimento. Um dia ela acordou do sonho, ele não entendeu, ela disse que não agüentava mais a vida, cobranças, ele contou pela primeira vez que não suportava a falta de cuidado dela, “ela disse, eu não sei mais o que sinto por você”, ele disse, “vamos dá um tempo, um a gente se vê”, e, “falaram o que não deveria nunca ser dito por ninguém”. Ela suspirou de alívio, ele procurou alívio, ele tentou resignar-se, ela aceitou as mudanças com normalidade, ela procurou novos caminhos, foi embora, “correr mundo, correr perigo”, ele ficou, continuou a viver. E assim o tempo passou. Ele não queria envolver-se com ninguém, ela até que tentou, mas não levou ninguém a sério, ele deu-se conta que nunca pediu pra ela ficar, ela ficou pensando se teria ficado se ele pedisse, ela não insistiu no pensamento, ele continuou pensativo. Ele tomou uma decisão, iria buscá-la onde ela estivesse, ela nunca quis dá notícias a ele, ele largou tudo e se pôs a caminho, ela nunca esperava voltar. Ele começou a viagem, entrou no ônibus, mal sabia para onde ir, mas tinha pista. Sentou, suspirou, fechou os olhos, dormiu. A outra estava de férias, queria apenas passar dias em qualquer lugar, pegou o primeiro ônibus que passou, sentou do lado de um homem que roncava, a outra gostava de sentar sozinha olhando a janela, mas era o único assento. Ele acordou, a outra percebeu e não gostou. Ele disse bom dia, a outra boa tarde, ele perguntou onde estavam, a outra disse, pra onde você quer ir, ele riu, a outra não. Ele contou a sua história, a outra não acreditava em amor, ele narrou com ternura, a outra suspirou de vontade, ele era capaz de amar, a outra começava a acreditar que também, ele segurou a mão dela, a outra o beijou. O que estava acontecendo, perguntou ele, a outra disse, eu também não entendo, você vai pra onde, ele quis saber, a outra perguntou, por que quer saber? Ele disse, eu vou com você, a outra disse, eu quero. Namoraram, noivaram, não casaram, casar era brega, ele era tradicional, a outra moderna, ele aceitou, ela achava melhor. Tiveram filhos, foram felizes, brigaram, mas o amor era maior, nunca a outra foi embora, nem ele precisou pegar outro ônibus. Ele a esqueceu, a ela, com a outra, ela nunca mais soube de nada, ele nunca mais pensou em buscá-la, ela tinha também outros rumos, ela nunca se arrependeu, ele achou que o seu destino era mesmo encontrar a outra, a outra nada pensava, apenas vivia.


            Assim é a vida, ele, ela, a outra, o amor tem caminhos onde não existem estradas....

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