domingo, 9 de junho de 2013

O orgulho ferido dói em nós mais do que pensamos ou imaginamos

A DOR DO ORGULHO
Ronaldo Magella 

Sofremos por orgulho. O orgulho ferido dói em nós mais do que pensamos ou imaginamos, o problema é que poucos de nós dão-se conta disso. Toda dor, toda lágrima, cada tristeza nada é, nada menos, do que o nosso orgulho que está sendo maltratado.

Só porque achamos que somos bons, pensamos que nada poderá nos atingir. Só porque vamos a um templo religioso no final de semana, emprestamos sal ao vizinho, sorrimos e aqui e ali, não fazemos o mal, nem desejam mal a alguém, a vida para nós deve ser isenta de problemas, aflições e dificuldades. Quando na verdade não é bem assim.

Nós não suportamos o fato de a nossa vida não ser como gostaríamos que fosse, advém daí a depressão; não aceitamos que possa haver pessoas mais felizes, melhores materialmente do que nós sem esforço algum e nós que somos “humildes”, nos esforçamos tanto, corremos tanto, trabalhamos demais, nada conseguimos, advém então a revolta; não conseguimos suportar que há coisas das quais não podemos provar, usufruir, sonhos que não podemos realizar, nem desejos que possamos lograr, surge daí o melindre, a baixa autoestima, os complexos de inferioridade, os sentimentos de abandono, de aversão, de tédio, apatia. 

Apesar de alardearmos que o ser humano não é perfeito, que erramos, todo mundo erra, ninguém é um poço de virtudes, nós não aceitamos isso em nós, queremos porque queremos agradar a todo mundo, passar incólume no mundo, sem erros, sem fracassos, sem problemas, quando isso não é ainda possível, quiçá um dia venha a ser. E quando alguém desfere contra nós uma crítica, nos rebate, nos golpeia a personalidade, o nosso orgulho entra em cena e ficamos magoados, tristes, depressivos, carrancudos, fechados, ficamos de mal com a pessoa, preferimos nem olhar pra ela. É o orgulho.

A gente sofre e fica ressentido por não suportar a ideia de que somos gente, pessoas, seres humanos comuns, com problemas, dificuldades, erros e acertos, que somos carentes, pequenos, menores até do que gostaríamos que fôssemos, por isso, sofremos. O nosso orgulho fica tocado, sensibilizado, pois não conseguimos mudar o mundo, impor a nossa visão, convencer das nossas ideias, transformar a realidade que é maior do que nós, modificar os outros, por tudo isso sofremos, perecemos, baixamos a guarda.

Se a gente pensar um pouco perceberá que por trás de grande parte da agonia e do sofrimento humano, das decepções, das depressões, do suicídio, da raiva, mágoa, ressentimento, da violência, muitas vezes são motivadas por orgulho, pela personalidade maltratada e vilipendiada. Isso é claro em nós. Se vencermos isso, é bem provável que o mundo se tornasse um lugar melhor, ameno, mais simples e aconchegante. Não é fácil violentar a própria personalidade, ferir-se a si mesmo, enfrentar-se, é preciso muita disciplina e esforço, trabalho e dedicação, reconhecer-se, buscar a essência interna e superar as adversidades, ignorar o mundo, viver, mas não se envolver.


O que não é fácil, é bem verdade. Mas por fim, orgulho é uma das nossas maiores chagas, tanto nos faz sofrer, como nos faz alimentar outros monstros como a vaidade, a opulência, o vício. Cada um de nós merece dispensar uma atenção especial aos próprios sentimentos para que se reconheça como é de verdade, sem a necessidade da dor. 

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